sexta-feira, 10 de abril de 2020

O CORONAVÍRUS E A ERA DOS RISCOS


Ao ler o texto de Antonio Scurati que reflete sobre O FIM DE UMA ERA, "(...) o mais longo e distraído período de paz e prosperidade desfrutado na história da humanidade", não posso deixar de perguntar: Que paz e prosperidade são essas? Guerras, terrorismo, epidemias, mudanças climáticas, crises financeiras, pobreza, fome etc. Diante disso tudo me pergunto se o Coronavírus deu mesmo início a uma nova Era? E é claro que a pergunta é retórica! O Coronavírus não iniciou uma nova Era, definitivamente NÃO, mas a descortinou! Já vivíamos numa Era de riscos, com impactos até geológicos, chamada de Antropocêno, mas isto será assunto para outro texto, uma vez que agora, ao celular, digito com um único dedo e quero focar ao fato de que a globalização também globalizou uma sociedade de riscos compatilhada pelos mais de 7 bilhões de habitantes do planeta Terra.

Em 1992 o sociólogo alemão Ulrich Beck (falecido em 2015) defendeu a hipótese de vivermos em uma sociedade de risco (risk society), em seu livro "Risikogesellschaft", publicado pela primeira vez na Alemanha em 1986 (no Brasil "Sociedade de Risco: Rumo a uma outra modernidade").

 É verdade que do final do século XX até hoje alguns riscos foram sendo reduzidos pelo progresso tecnológico, contudo outros aumentaram com a globalização. No final do século passado Beck entendia que os grandes riscos eram o terrorismo, o sistema financeiro e a degradação ambiental (ecologia), onde inseria os problemas climáticos e as epidemias, já que são questões de saúde ambiental. Assim, a dengue,  o sarampo, a gripe asiática, a Covid19, entre outros patógenos e doenças, são exemplos desses riscos, que são transfronteiriços. 

Mas Beck já entendia que se os riscos são globalizados, não são uniformemente distribuídos, afetando mais (quantitativamente e/ou qualitativamente) os países e indivíduos mais desfavorecidos, aqueles com pior assistência de saúde, aqueles menos nutridos, aqueles com piores condições imunológicas, aqueles que não têm acesso a redes de informação, de apoio e de proteção, aqueles sem reservas financeiras para tempos de crise e aqueles que não podem se isolar.

Mas já convivíamos e sofríamos com todos esses riscos. A humanidade já vivia na Era dos Riscos. Riscos climáticos, riscos alimentares, riscos oncológicos, riscos nucleares, riscos de terrorismo, riscos financeiros e riscos epidêmicos. O mundo globalizado do consumo desenfreado e sem consequências, já ERA, se me permitem o trocadilho. Pois a Covid19 revelou para o mundo, simultâneamente (no tempo histórico) a verdadeira face do tempo em que vivíamos e o nominou, com nome e sobrenome: ERA DOS RISCOS.

 _```João Paulo Miranda é professor adjunto de Direito da Universidade Federal do Pampa, Campus Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brasil. Doutor e Mestre em Direito.

E-mail: joaomiranda@unipampa.edu.br 

REFERÊNCIAS:
  • BECK, Ulrich. Sociedade de risco: Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2011. 
  • BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós, 1998.
  • PEREIRA, Luciana Vianna. A sociedade de risco, terrorismo e corona vírus. Direitoambiental.com , 13 mar. 2020.
  • ROSENTHAL, Benjamin. O coronavírus e a sociedade do risco. Propmark, 25 mar. 2020.
  • SCURATI, Antonio. Milão. A cidade mais privilegiada de Itália está agora na fila do pão. Observador, Lisboa, 25 mar. 2020.